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A Mulher Entre Nós

A Mulher Entre Nós é um livro das autoras Greer Hendricks e Sarah Pekkanen definido no gênero como suspense/misterio.

É um livro cuja a narrativa é diferente e original e isso me agradou muito. O enredo peca em algumas partes caindo por exemplo no clichê do homem rico e bonito que toda mulher deseja, o verdadeiro prícipe… (socorro!) e também exagera um pouco na necessidade de encaixar todas as pecinhas da trama, mas confesso que essa parte me agrada pois adoro como as coisas se interligam e o tal efeito borboleta.

Aos 37 anos, a recém-divorciada Vanessa está no fundo do poço.
Ao conhecer Richard – bem-sucedido, protector, o homem dos seus sonhos -, Nellie finalmente começa a sentir-se segura. Ele promete protegê-la de tudo para o resto de sua vida.
Mas, de repente, começa a receber chamadas misteriosas.
Algumas fotografias são mudadas de lugar no seu quarto.
Alguém a está a perseguir, alguém quer o seu mal.
Mas quem?

A história se desenrola a partir da narrativa destas personagens, começamos sabendo apenas o básico das duas e supomos tratar-se de uma história sem grandes surpresas da ex com ciúmes da atual. Muitos plots twits depois terminei o livro contente pela escolha.
**** SPOILER ALERT – Se você ainda não leu o livro prossiga por sua conta e risco a partir daqui ***

Já na contracapa somos alertados sobre suposições, sobre as coisas não serem o que parecem e isso é uma constante no livro. No meu ponto de vista a questão central além da violência doméstica é a perda de identidade de uma das personagens devido a isto, e suas consequências. No livro a vítima encontra uma maneira peculiar de quebrar o ciclo, mas na vida real sabemos que as coisas são diferentes.

A violência doméstica não tem rosto, não tem classe social e é extremamente marcante para a vítima.

O conceito do que é violência doméstica na legislação brasileira está descrito na chamada Lei Maria da Penha, a Lei 11.340/06 em seu artigo 7o :

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Gostaria de enfatizar nesse caso a violência psicológica, (vamos deixar as outras formas para outros posts) difícil de identificar até pela vítima, as marcas infelizmente não são visíveis mas são padrões comportamentais que repetidamente ferem a pessoa psicologicamente, fazendo com que perca sua auto estima e até chegue a desenvolver outras condições que vão desde a depressão ao suicídio. O dado é presente em diversos estudos nacionais e internacionais. Basta dar um google.

Muitas vezes a violência psicológica precede a violência física e frequentemente deixa marcas ainda mais difíceis de sumir. As vítimas podem ficar paralisadas durante anos tentando inventar desculpas para as agressões psicológicas ou na grande esmagadora das vezes se culpando, acreditando verdadeiramente que deram motivo ou que realmente são como o companheiro as enxerga.

A violência psicológica contra a mulher está no guarda chuva da Lei Maria da Penha, logo, terá o mesmo tratamento que os outros tipos de violências domésticas pois é tão grave quanto. A vítima se sente presa em um ciclo vicioso no qual o primeiro momento é de tensão entre as partes, logo após é ofendida, e em seguida vem a fase da lua de mel quando o agressor se desculpa e se torna carinhoso novamente, plantando na vítima a esperança que algo mude. E tudo se repete. Muitas vezes algo precisa acontecer para que o ciclo se quebre. Esse algo muitas vezes é algo pior.

Esse ciclo fica muito claro na obra “Uma Mulher Entre Nós”. São muitos os motivos que levam a vítima a não denunciar ou mesmo a retirar a queixa, dentre eles a vergonha e o medo acompanhado de novas ameaças já que muitas vezes nesse estágio o agressor já tem total controle da vida da vítima. Realmente as vítimas de agressão psicológica são muito vulneráveis e precisam de apoio de proteção. Na maioria das vezes já estão afastadas do convívio social ou com este bem restrito, o que dificulta ainda mais a detecção do comportamento abusivo e estabelece ainda mais a dominância do agressor sobre a vítima.

Lembrando que, quando falo agressor não é necessariamente uma pessoa que agride a outra fisicamente, mas que tem condutas não físicas, por exemplo verbais que a ofendem como xingamentos, humilhações, proibições, imposições…

Se você conhece alguém que esteja sendo vítima de violência psicológica não se afaste, tente conquistar a confiança da vítima para poder ajuda-la a enxergar a situação como ela é. Ajude-a a conseguir denunciar o agressor e afastar-se dele. A lei tem medidas protetivas para isso.

A palavra da vítima é de extrema relevância em crimes ditos de 4 paredes assim como também é importante o envolvimento de toda uma equipe interdisciplinar para apurar a veracidade dos fatos. A denúncia é necessária para que as agressões não escalem e virem algo pior, ninguém merece passar por isso, e muito menos se culpar por estar passando por isso.

E, além de tudo, a denúncia de uma vítima pode impedir que o mesmo ou coisas piores aconteçam com outras mulheres. O primeiro passo para a luta contra a violência doméstica é a denúncia.

Para informações sobre a Lei Maria da Penha, que criminaliza a violência doméstica em todas as suas manifestações, ou para fazer uma denúncia, ligue para a Central de Atendimento à Mulher no número 180.

A Mulher Entre Nós

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